De Wuhan para o Mundo: O que está acontecendo? From Wuhan to the World: What's going on?
Evolução da pandemia causada pelo SARS-CoV-2 nos 5 continentes: Janeiro de 2020 a Maio de 2021
ECOLOGIA DOS CORONAVÍRUS
DOI: https://doi.org/10.29327/840790
"Escrever em tempo real sobre uma pandemia não é tarefa simples. Mas precisamos informar a população de maneira honesta e responsável, cientificamente falando."
"Daqui há 100, 200 ou 500 anos os pesquisadores do futuro não irão compreender o que ocorreu com a nossa geração, e perguntarão: – Como deixaram acontecer algo tão evitável? Ou por quê estávamos tão despreparados? E como os profissionais de saúde puderam negligenciar a SARS de 2002/2003 e a MERS de 2012/2013, reduzindo a SARS-2 a uma gripezinha ?"
"Gerações futuras ficarão atônitas quando realizarem um levantamento e verificarem que desde 1546, através das observações de um médico italiano, Fracastorius, já se sabia, ainda que de forma teórica, a respeito da disseminação de doenças, e suas formas de transmissão: direta, pessoa a pessoa; via fômites, lençóis , por exemplo; ou mesmo, à distância"
Evolução da pandemia causada pelo SARS-CoV-2 nos 5 continentes: Janeiro de 2020 a Maio de 2021
Marcelo Moreno
Virologista
Universidade Federal da Paraíba
E-mail:profmarcelomoreno@yahoo.com.br
Evolution of the pandemic caused by SARS-CoV-2 on 5 continents: January 2020 to May 2021
ECOLOGY OF CORONAVIRUS
"Biological entity devoid of its own metabolism, and therefore, dependent on a living system for the multiplication and perpetuation of its genome on the surface of the planet"
Personal communication, 2002
Prof. Dr. Marcelo Moreno
2021
1. INTRODUÇÃO
1.1 DEFININDO VÍRUS
Entre inúmeras definições de uma partícula viral, sendo atribuído sua capacidade de infectar uma célula e ser replicada por esta, ou não, podemos utilizar uma definição mais geral que envolve ou explica o que está ocorrendo com o SARS-CoV-2 e suas variantes genéticas, como:
“Entidade biológica desprovida de metabolismo próprio, e portanto, dependente de um sistema vivo para multiplicação e perpetuação do seu genoma na superfície do planeta”
Comunicação pessoal, 2002
É esperado, que toda definição, e não citação de características da partícula viral, infeciosa ou não, encontre obstáculos teóricos. Todavia, essa definição proposta não deve ir de encontro às características conhecidas e estabelecidas pela Virologia, ramo da Microbiologia, uma das áreas da Biologia. A definição apresentada aqui procura defender tais conhecimentos acerca dos fenômenos biológicos que ocorrem com a partícula viral ou seu genoma, no interior da célula infectada, bem como seu padrão epidemiológico de manter-se no meio ambiente.
Muito embora sempre haverá discussões a respeito do termo biológico, se a partícula viral é um organismos vivo ou não. Mas em função de algo inusitado que ocorreu na década de 1960, quando o Professor Bernard N. Fields [1938-1995], um importante líder na área da Virologia, em uma de suas brilhantes palestras, finalizou a controvérsia para muitos colegas, quando disse (segundo a tradição oral):
– √írus é √írus!
Em outras palavras, Fields estava nos dizendo:
- Existe o vivo, o morto e o vírus.
Por outro lado, alguns virologistas, os verdadeiros especialistas da área, a discussão sobre a melhor definição sobre vírus ainda faz parte de encontros e artigos acadêmicos. Por exemplo, o Prof. Didier Raoult, da Universidade de Marseille, encara-os como “organismos codificadores de capsídeo” 5 . Ressaltando, é claro, que a discussão de vírus ser vivo ou morto já foi superada há décadas! E sem medo de errar, pode-se dizer:
– √írus é √írus! Nem vivo, nem morto. Tão somente vírus.
1.2 MUTAÇÕES DO SARS-CoV-2
As variantes genéticas surgidas no desenvolver da pandemia pelo novo coronavírus, por exemplo, surgem em função de pressões seletivas que o SARS-CoV-2 sofre, alterando suas formas infecciosas, chamadas de vírions. Exatamente quando da sua eliminação dos hospedeiros infectados, via sistema imune natural ou provocada por vacinas – expedientes biológicos que eliminam ou tentam eliminar os vírus do Globo Terrestre. E é justamente sobre essa função, codificada em seu genoma, no caso um RNA de tamanho 30 Kpb de polaridade positiva [Classe IV de Baltimore], a de continuar circulando no planeta [presente na superfície deste], que direciona tal organismo não celular à mutações pontuais do material genético, chamadas de Drifts, permitindo o escape dos vírions do nosso sistema imunológico ou da pressão seletiva exercida pelas vacinas.
1.2 PROPOSTA DO ESTUDO
O presente trabalho analisou os dados do número de casos confirmados e número de óbitos diários em 14 países ao longo de 1 ano e 5 meses de pandemia pelo novo coronavírus, o SARS-CoV-2, o agente etiológico dos casos de pneumonia que se iniciaram dezembro de 2019, em Wuhan, República Popular da China. Os dados obtidos foram provenientes da Universidade de Johns Hopkins [COVID-19 Dashboard – Center For Systems Science and Engineering (CSSE) at Johns Hopkins University (JHU)], situada em Baltimore, Maryland, Estados Unidos da América, e do site World Data.
As análises são preliminares, visto que a crise sanitária ainda não foi declarada finalizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Estudo subsequentes devem demandar alguns anos ou décadas, para elucidar todos os aspectos clínicos e epidemiológicos envolvidos nessa coronavirose.
1.3 NOMENCLATURA DO NOVO CORONAVÍRUS
No inicio, quando o agente etiológico dos casos de pneumonia foram confirmados ser um agente viral, precisamente um coronavírus, a imprensa em geral adotou o seu nome como vírus chinês, vírus de Wuhan. Por ser um um novo coronavírus que infecta e adoece humanos, foi chamado pela comunidade científica de nCoV-19 (New Coronavirus 2019), ou mesmo de HCoV-19 (Human Coronavirus 2019). A OMS recomenda e utiliza uma nomenclatura que não associa a doença ou o agente causal a uma região ou país. No caso, os nomes vírus de Wuhan, vírus chinês utilizados pela imprensa, não são oficiais. Já a nomenclatura autorizada pela OMS e adotada pela comunidade científica, a qual utiliza códigos e/ou siglas, não gera estigmas entre determinados povos ou países, a fim de que preconceitos não surjam, para que atitudes hostis não sejam disseminadas, o que infelizmente foi registrado logo no início da pandemia contra sino norte-americanos e sino-europeus 7 .
A OMS adotou a nomenclatura proposta pelo Comitê Internacional de Taxonomia dos Vírus (ICTV – International Comittee on Taxonomy of Viruses), baseado em estudos genéticos de sequenciamento, o qual nomeou o novo coronavírus, causador da doença COVID-19 [CO = corona; VI - virus; D = disease; 19 = 2019], de SARS-CoV-2 [Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2], coronavírus da síndrome respiratória aguda – 2 8. A OMS declarou pandemia pelo novo coronavírus, já com a nomenclatura atual de SARS-CoV-2, em 11 de março de 2020.
2. OBJETIVOS
O presente trabalho tem como objetivo principal investigar a evolução da pandemia de COVID-19 pelo novo coronavírus em dois períodos em 20 países de 5 continentes, além da Ilha Seychelles. O primeiro, de de 22 de Janeiro de 2020 a 11 de Março de 2020,a fim de verificar como ocorreu a disseminação do SARS-CoV-2, em termos de números, no início da crise sanitária mundial, até a declaração da pandemia em 11 de Março de 2020 pela OMS. O segundo, corresponde ao período de 22 de Janeiro de 2020 a 27 de Maio de 2021. Basicamente para verificar o padrão das curvas de casos de óbitos e análise desses dados em função da introdução das campanhas de imunizações com as diversas vacinas emergenciais para a Covid-19 nesses países e na Ilha Seychelles, sem especificar a vacina aplicada.
3. METODOLOGIA
O levantamento dos números de casos confirmados e óbitos pela Covid-19, incluindo dados sobre a vacinação no universo de 20 países de 8 regiões dos 5 continentes do globo terrestre, mais a Ilha Seychelles. São eles: Ásia (China, Vietnam, Índia e Japão), Oceania (Austrália), Europa (Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Espanha), Oriente Médio (Kuwait e Israel), África (África do Sul e Egito) e América do Norte ( Estados Unidos), América Central (Costa Rica) e América do Sul ( Brasil, Chile e Argentina), além da Turquia localizada na Europa e na Ásia. Os dados de casos e óbitos foram obtidos da John Hopkins University (JHU – COVID-19 Dashboard by the Center for Systems Science and Engineering), em https://gisanddata.maps.arcgis.com/apps/dashboards/bda7594740fd40299423467b48e9ecf6. E os dados sobre início e evolução da vacinação no Our World in Data [ https://ourworldindata.org/covid-vaccinations ], ambos acessados no dia 30 de Maio de 2021. Os dados foram divididos em dois períodos, o de 22 de Janeiro de 2020 a 11 de Março de 2020 [neste dia 11/03/20 a OMS declarou pandemia pela COVID-19]. Além do período de 22 de Janeiro de 2020 a 27 de Maio de 2021 em 20 países dos 5 continentes [América do Sul, Central e do Norte, Europa, Ásia, Oriente Médio e Oceania]. Foram construídos gráficos no Excel Microsoft® a fim de obter panoramas gerais do evento, indicando em alguns países quando ocorreu a introdução das campanha da campanha de imunização. Países dos 5 continentes:
Ásia (China, Vietnam, Índia, Turquia e Japão)
Oriente Médio (Kuwait, Egito, Israel)
Oceania (Austrália)
América do Norte (Canadá e Estados Unidos)
América Central (Costa Rica)
América do Sul (Brasil, Chile, Argentina)
Europa (Alemanha, França, Itália, Espanha, Reino Unido)
Ilhas Seychelles (localizada ao Leste do continente africano, no Oceano Índico)
4. RESULTADOS
4.1 Primeiros registros até 11/03/2020 [ dia em que a OMS declarou pandemia pela Covid-19 ]
Os primeiros casos da China foram identificados em dezembro de 2019, e em 22 de janeiro de 2020 já eram registrados 95 casos. No dia 12 de fevereiro os números foram atualizados pela autoridades de saúde chinesa, sendo registrado no dia o valor de 15.136 casos confirmados de COVID-19, Figura 1A. Na Figura 1
Figura 1. Em (A) o gráfico exibe os números de casos confirmados de COVID-19 da República Popular da China, no período de 22 de Janeiro de 2020 a 11 de Março de 2020. No dia 22/01/20 já eram contabilizados 95 casos de pneumonia causados pelo novo coronavírus, o nCoV-19 [não exibido no gráfico devido a escala]. Em (B) o gráfico exibe os número de óbitos diários confirmados pela COVID-19 na China no período de 22 de Janeiro de 2020 a 11 de Março de 2020. Observe que no dia 13/02/20 o número de óbitos atingiu cerca de 250 vítimas por dia.
Na Figura 2A estão os números de casos diários de outros países do continente Asiático e da Oceania. Todos possuem registros de casos da COVID-19. A partir de 14 de fevereiro o Japão se destaca em número de casos, quando atinge um valor de 58 casos no dia 10 de Março. No dia seguinte a Austrália ultrapassou os 20 casos. O Vietnam atingiu um valor máximo de 12 pessoas. A Índia também registrou, nesse mesmo período, um valor máximo de 23 casos no dia dia 04 de março de 2020. A Figura 2B mostra o número de óbitos diários no mesmo período. Já no dia 13 de fevereiro de 2020 é registrado 1 óbito no Japão, chegando a 3 no dia 10 de março. No Vietnam não foram registrados óbitos nesse período. Na Austrália, o número de óbitos não ultrapassou 1 caso, sendo registrados depois do dia 29 de fevereiro.
Figura 2. Em (A) o gráfico exibe os números de casos confirmados de COVID-19 de países da Ásia, Vietnam, Índia e Japão e da Oceania, Austrália, no período de 22 de Janeiro de 2020 a 11 de Março de 2020. Em (B) o gráfico exibe os números de óbitos confirmados, pela COVID-19, de países da Ásia, Japão e Índia e da Oceania, Austrália, no mesmo período.
Na Figura 3 estão os números de casos diários de 2 países do Oriente Médio, Kuwait e Israel. No dia 21 de fevereiro surge o primeiro caso em Israel. Atingindo 28 casos no dia 10 de Março de 2020. Não foram registrados óbitos nesses países durante o período investigado. No Kuwait, no dia 27 de fevereiro, foram registrados 17 casos.
Figura 3. O gráfico exibe os números de casos confirmados de COVID-19 de países do Oriente Médio, Kuwait e Israel no período de 22 de Janeiro de 2020 a 11 de Março de 2020.
Na Figura 4 encontram-se os dos primeiros registros da Covid-19 no continente Europeu na Itália, França, Alemanha e Espanha. Os primeiros dois casos na França surgem no dia 24 Fevereiro de 2020. Na Alemanha, 1 caso no dia 27 de Janeiro. No Reino Unido e Itália, foram dois casos no dia 31 de Janeiro. A Espanha no dia 1º de fevereiro, teve seu primeiro caso confirmado de COVID-19.
Figura 4. A figura acima exibe os primeiros casos da COVID-19 em 5 países da Europa: França, Alemanha, Reino Unido, Itália e Espanha.
A figura 5 exibe a evolução do número de caso nesses paíse europeus. A Itália atingiu valores de mais de 2000 casos, no dia 11/03/20. Reino Unido, 412, Espanha 582, Alemanha 451 e França, 510.
Figura 5. O gráfico exibe a evolução dos números de casos diários confirmados de COVID-19 em países da Europa: Itália, França, Alemanha e Espanha, no período de 22 de Janeiro/2020 até 11 de Março /2020.
No continente africano analisamos dois países, a África do Sul e o Egito. Na Figura 6 estão os dados da África do Sul e Egito. No Egito, em 14 de fevereiro de 2020 ocorreu o primeiro registro da doença causada pelo novo coronavírus. Na África do Sul, foi em 5 de março. O Egito atingiu um valor máximo diário de 34 em 8 de março de 2020. Somente o Egito registrou óbito no período de 21 de janeiro a 11 de 2020.
Figura 6. O gráfico exibe a evolução dos números de casos confirmados de COVID-19 no continente africano, África do Sul e Egito, no período de 22 de Janeiro de 2020 a 11 de Março de 2020.
Na América do Norte, verificamos o Canadá e os Estados Unidos. A Figura 7A exibe os dados. Estados Unidos no início de março já registra cerca de 20 casos e no dia 11/03 atinge um pouco mais de 350. O Canadá sai de 3 e atinge 29 casos diários nesse mesmo dia. A Figura 7B exibe os dados de óbitos. Foram registrados até 6 mortes nos Estados Unidos no dia 10/03/20 e 1 óbito somente no dia 09/3, no Canadá.
Figura 7. Em (A) o gráfico exibe a evolução dos números de casos confirmados de COVID-19 em países da América do Norte, Estados Unidos e Canadá, no período de 22 de Janeiro de 2020 até 11 de Março de 2020. Em (B) estão a evolução dos dados do número de óbitos diários do Estados Unidos e Canadá no mesmo período.
Na Figura 8 estão os dados de casos diários da Costa Rica, país da América Central. Surge o primeiro caso no dia 06//03, atingindo no dia 11//03 4 casos diários. Até o dia 11/03/2020 nenhum óbito foi registrado
Figura 8. O gráfico exibe a evolução dos números de casos confirmados de COVID-19 na Costa Rica, país da América Central, no período de 22 de Janeiro a 11 de Março de 2020.
Na Figura 9 encontram-se os dados de casos diários do Chile, Brasil e Argentina países da América do Sul. Em 23/02/20 os primeiros casos são registrados no Chile, a seguir no Brasil. A Argentina tem seu primeiro caso no dia 03/03/2020. O Brasil atinge 14 casos do dia 11/03/20. Somente a Argentina nesse período registrou óbito por Covid-19, sendo 1 caso.
O quadro geral mundial do número de casos diários no período de 22 de Janeiro a 11 de Março de 2020 é exibido na Figura 10. Observe que no início de fevereiro os valores já atigem cerca de 5.000 casos. No dia da declaração da pandemia pela OMS, o número de casos novos diários ficou perto de 8.000 em todos os 5 continentes do globo.
Figura 10. O gráfico exibe a evolução dos números de casos confirmados de COVID-19 em 190 países ou regiões do mundo, no período de 22 de Janeiro de 2020 a 11 de Março de 2020.
4.2 Registros de casos novos da COVID-19 no mundo em 18 países de 5 continentes de 22 de Janeiro de 2020 a 27 de Abril de 2021 – início das campanhas de imunização com as vacinas emergenciais
A Figura 11 exibe a evolução da pandemia da Covid-19 por cerca de 1 ano e 5 meses desde 22 de janeiro até 27 de Maio de 2021. No dia 10 de dezembro de 2020, os números atingiram o valor de quase 1,5 milhões por conta das atualizações que os dados sofreram por seus países.
Figura 11. O gráfico exibe a evolução dos números de casos confirmados de COVID-19 no mundo, ao longo do período
A Figura 12 exibe os dados de países de 5 regiões do mundo ao longo do período de janeiro de 2020 a maio de 2021. Na Figura 12A encontram-se os dados de casos novos diários dos Estados Unidos (imunização iniciada em 15/12/2020) e Índia (imunização iniciada em 14/01/2021). Na Figura 12B, estão representados 3 regiões do planeta através de Israel – Oriente Médio [imunização iniciada em 18/12/2020], Itália – Europa [imunização iniciada em 25/12/2020], e África do Sul – África [imunização iniciada em 14/01/2021].
Observa-se que os números evoluem, experimentando um crescimento exponencial e a seguir caem, também, exponencialmente, o que se adotou chamar de “ondas pandêmicas”. Essas ondas podem ser de base larga ou não, como a primeira onda da Índia. Na Figura 12A observa-se que no período de estudo de estudo, os Estados Unidos apresentou quatro ondas, sendo a terceira de maior intensidade, com pico de 250 mil casos diários no final de janeiro de 2021. A seguir ela decresce, e forma-se uma quarta onda, atingindo valores próximos a 50 mil casos diários. A segunda onda da Índia chegou a números na ordem de 400 mil casos diários.
Ainda na Figura 12A pode-se verificar que após o inicio da campanha de vacinação nos Estados Unidos, 15 de Dezembro de 2020 [seta azul] e Índia, 14 de Janeiro de 2021 [seta vermelha], países de continentes diferentes, ambos vivenciaram um aumento no número de casos. Nos Estados Unidos os números caem, mas voltam a forma uma onda de menor intensidade e a seguir caem, permanecendo em queda até o limite desse estudo, 27/05/2021. Já a Índia experimenta uma espiral de subida bem significativa (pico máximo de casos diários atingindo 400 mil no início de maio de 2021). No dia 27 de Maio de 2021, 3,1% da população indiana se encontrava completamente vacinada, e 11,5% parcialmente. Nessa mesma data 49,5% da população norte-americana estava completamente vacinada, e 39,7% parcialmente.
Figura 12. O gráfico exibe a evolução dos números de casos confirmados diários de COVID-19 nos Estados Unidos, Índia, África do Sul, Itália e Israel no período de 22 de Janeiro de 2020 até 27 de Maio de 2021, bem como as data de início das campanhas de imunização nesses países. Observe o número de casos diários subindo e descendo, formando as “ondas pandêmicas”. Esse padrão periódico é esperado pela dinâmica da infecção na população, e é observado em vários países de diferentes continentes nesse estudo.
Na Figura 12B estão registrados os dados de Israel, Itália e África do Sul, também países de continentes diferentes. Israel, curva em verde, exibe suas principais ondas ao longo do período estudado. África do Sul, curva de casos na cor laranja revela duas onda ao longo do período, com picos de casos diários maiores do que Israel. Itália, em azul, atinge picos bem maiores do que Israel e África do Sul. Mas, como ocorre nos Estados e Índia, Figura 12A, observa-se a propriedade periódica da evolução dos números de casos diários pela Covid-19. Ainda na Figura 12B, as datas de início das campanha de vacinação, Israel [18/12/20 – seta verde], Itália [25/12/20 – seta azul] e África do Sul [14/01/21 – seta laranja], revelam que após essas datas, todos os três países experimentam aumento do número de casos, gerando “ondas pandêmicas” em seus territórios. Até a data limite de observação desse trabalho, 27 de Maio de 2021, 59,2% da população israelense se encontrava completamente vacinada, e 62,9% parcialmente. Itália, 18,5% da população estava completamente vacinada, e 36,8% parcialmente. E África do Sul, com 0,8% da população completamente vacinada, e 1,5% somente com a primeira dose.
A Figura 13 exibe os dado do número de casos da Austrália, bem como o início da imunização no país [22/01/21 – seta vermelha]. Da mesma forma como é observado no exemplos anteriores em países de outros continentes, observa-se duas “ondas pandêmicas” apresentando picos de maiores intensidades, o primeiro entre abril e março de 2020, e o segundo, entre julho e agosto de 2020. O ultimo apresenta maior intensidade, atingindo cerca de 700 casos diários. Posteriormente, não é observado nenhum pico de casos com intensidade comparável. Quando a campanha de imunização é iniciada, os casos novos diários estão numa faixa de 10 a 20, raramente chegando a valores próximos a 40 [meados de abril de 2021]. Em 27 de Maio de 2021, 13,4% da população estava completamente vacinada, e 1,9%, parcialmente.
Figura 13. O gráfico exibe a evolução dos números de casos confirmados de COVID-19 na Austrália, no período de 22 de Janeiro/2020 até 27 de Maio de 2021. Observe as “ondas”de novos casos aumentando e diminuendo exponencialmente ao longo do tempo. Entre as duas “ondas” e ao em todo o período observa-se peequenas “ondas”, onde “marolas pandêmicas” sustentam o vírus na região e ataca os susceptíveis, formando a 2a, ou “ondas” posteriores.
A Figura 14 exibe o número de casos de três países da Europa: França, Alemanha e Espanha, com as setas indicando os respectivos dia de início da vacinação nesses países. A vacinação na França teve início em 25/12/20 [seta vermelha]. Observamos aqui, semelhantemente ao que ocorre em outros países de continentes diferentes as "ondas" crescendo e diminuindo exponencialmente. Após introdução da vacina o número de casos não diminuem e até experimentam um leve acréscimo até originar uma nova onda de casos novos. Até 27/05/21, 15,3% da população francesa já estava totalmente vacinada, e 35,7% parcialmente. Na Alemanha, com 16,3% da população totalmente vacinada e 42,2% parcialmente, até 27 de maio de 2021, a vacina foi introduzida em 25/12/2020 [seta laranja]. Os casos caem, a seguir forma-s uma nova onda de casos diários. A Espanha também apresenta o mesmo padrão periódico das “ondas” verificado em outros países. Quando a vacina é introduzida na Espanha [seta azul] os casos estão em ascensão, formando-se uma “3a onda” com pico diário de casos maior do que a primeira e a segunda. Em março forma-se uma nova “onda” com magnitude comparável à segunda. Em 27/05/2022 18,4% da população estava totalmente vacinada, e 37,4% parcialmente.
Figura 14. O gráfico exibe a evolução dos números de casos confirmados de COVID-19 na França, Alemanha e Espanha, no período de 22 de Janeiro de 2020 até 27 de Maio de 2021. Observe as “ondas pandêmicas” também com novos casos diários aumentando e diminuindo exponencialmente ao longo do tempo.
A Figura 15 exibe os dados da Suécia, em A e do Chile, em B. O Chile, após a vacinação [seta de cor preta], iniciada em 25 de Dezembro de 2020, experimentou aumento no número de casos diários. A Suécia nesse período de 1 ano e 5 meses apresentou cerca de 1 milhão de casos, e 14.500 mortes. A onda gerada na Suécia após iniciar campanha de imunização [seta de cor vermelha em (A)] atinge valores compatíveis com a anterior, quando não havia vacina. Observa-se ainda que o número de casos diários apresenta uma elevação após inicio da campanha. 12,7% da população sueca até 27/05 estava totalmente vacinada. Sua vacinação foi iniciada no dia 25/12/20 [seta de cor vermelha]. No Chile, a campanha foi iniciada no dia 22/12/2020 [seta preta], apresentando 41,4% da população totalmente vacinada até 27 de maio de 2021. Observa-se na Figura 15B que os casos diários no Chile estão com uma tendência de aumento perto do final de maio de 2021.
Figura 15. Casos novos diários da Suécia em A (Europa) e no Chile em B (América do Sul) no período de 22/01/2020 a 27/05/2021. Observe as setas indicando o início da imunização desses países de continentes diferentes, Europa e América do Sul.
A Figura 16 exibe os casos diários da Turquia no período de 22 de janeiro de 2020 a 27 de maio de 2021. As autoridades sanitárias do país realizaram uma atualização de 823.225 casos no dia 20/12/2020, não exibido no gráfico. A vacina foi introduzida no dia 12/01/2021 [seta de cor vermelha]. Independente da atualização dos dados citado acima, observa-se que o número de casos deflagra uma onda de casos com pico máximo de quase 62.000 casos, 4 meses depois. Em 27 de Maio de 2021, 14,5% da população nesse país estava completamente vacinada.
Figura 16. Casos novos diários da Turquia no período de 22/01/2020 a 27/05/2021. Pode ser observado no gráfico acima que mesmo a vacinação em curso os dados seguem a mesma periodicidade de subida e descida do número de casos.
A Figura 17 mostra os dados de casos novos diários da Argentina e do Brasil de 22 de Janeiro de 2020 a 27 de Maio de 2021. A Argentina, Figura 17A, país da América do Sul que assim como o Chile iniciou seu programa de vacinação primeiro do que o Brasil, em 27/12/21. Na Argentina, após o início da imunização [seta de cor preta], os casos diários aumentaram, formando duas “ondas pandemicas” consecutivas crescent, o que fica mais visível no final de maio de 2021. Até o fim desse período 5,6% da população havia sido totalmente vacinada. E cerca de 19,9 %, parcialmente. O Brasil, Figura 17B, com 10,1% da população já completamente vacinada. A campanha de imunização foi iniciada depois que seus países vizinhos, Chile e Argentina, em 17 de janeiro de 2021 {sesta de cor azul]. Observe que o número e casos aumenta logo após o início da campanha de imunização.
Figura 17. Casos novos diários da Argentina (A) e do Brasil (B) no período de 22/01/2020 a 27/05/2021.
Na Figura 18 estão os dados da República Popular da China, onde há meses não registra ondas de casos e óbitos da mesma magnitude como em outras partes do mundo. Sua campanha de vacinação começou no dia 13 de dezembro de 2020.
Figura 18. China, casos diários no período de 22 de Janeiro a 27 de Maio de 2021.
Na Figura 19, estão os dados do número de casos e de óbitos diários nas Ilhas Seychelles, registrados por conta da Covid-19. Localizada no Oceano Índico, próximo a costa leste do continente africano, possui uma população de cerca de 100 mil habitantes. A campanha de vacinação foi inciada no dia 11 de Janeiro de 2021[seta de cor preta]. No dia 27 de maio de 2021, 65,1% da população da ilha já havia sido vacinada.
Figura 19. Ilhas Seychelles. Casos novos (A) e óbitos diários (B). Observe que antes da imunização não haviam óbitos, sendo registrado 1 caso durante todo o período anterior a vacina.
5. DISCUSSÃO
Verificou-se que todos os países dos 5 continentes do globo Terrestre, alvos desse trabalho, apresentaram casos de pneumonia, semelhantes aqueles iniciados em dezembro de 2019 na cidade Wuhan, China, o qual no dia 07 de janeiro de 2021 foi identificado o agente etiológico como um coronavírus diferente dos demais conhecidos. A doença associada a este novo coronavírus foi denominada de Covid-19 em fevereiro de 2020.
A presença de casos novos diários foi detectada em vários países de diferentes continentes bem antes do dia 11 de Março de 2020, dia em que a OMS tornou oficialmente a Covid-19 uma pandemia causada pelo agente viral, SARS-CoV-2. Na China, na segunda quinzena de janeiro de 2020, já existiam quase uma centena de casos confirmados. Um mês antes da OMS ter declarado a pandemia, a China atualizou os dados e informou o número sendo um pouco mais de 15 mil casos (Figura 1A). Nesse mesmo período, ainda na primeira quinzena de fevereiro foram registrados até 252 óbitos diários na China – considerada “epicentro” da atual crise mundial sanitária (Figura 1B).
Ainda no continente Asiático e na Oceania, verificou-se que Vietnam, Japão, Austrália e Índia registraram casos de covid, muito antes de 11 de Março. Vietnam, Japão e Índia registram valores máximos diários de 93 casos; o Japão, por exemplo, já registra mais de 50 casos diários na primeira semana de março de 2020 (Figura 2A). A Austrália, no final de fevereiro atinge 10 casos em um só dia (Figura 2A). Concomitantemente, esses casos são acompanhado de mortes pela covid. Japão, Austrália e Índia registraram óbitos a partir de 13 de fevereiro, cerca de 1 mês antes da OMS declarar pandemia pela COVID-19 (Figura 2B).
No Oriente Médio, Kuwait e Israel, a covid atingiu esses dois países no final de fevereiro, através de casos diários sem registro de óbitos nesse período. Israel no próprio 11 de Março registra mais de 20 casos (Figura 3).
Na Europa, dos cinco países investigados, quatro, França, Alemanha, Reino Unido e Itália registraram seus primeiros casos de covid ainda em janeiro de 2020 (Figura 4). Na primeira semana de março, somente a Itália já passava de 1000 casos diários (Figura 5).
Na África, na primeira quinzena de fevereiro o Egito registrou o seu primeiro caso, enquanto a Africa do Sul, no extremo do sul do continente registraria 3 semanas depois. Revelando assim a presença do novo coronavírus no continente desde fevereiro de 2020.
No continente americano, nos Estados Unidos, o primeiro caso foi detectado em 26 (ou 24) de janeiro de 2020, homem de 30 anos que havia chegado de Wuhan. O primeiro óbito foi registrado em 06 (ou 29) de fevereiro (Figura 7B). Os casos evoluem de forma exponencial de maneira que no dia 11 de Março os valores chegam a quase 400 casos diários nesse país (Figura 7A). No Canadá também são registrados casos, mas não com mesma magnitude do país vizinho (Figura 7A). Também na America Central, na Costa Rica, é confirmado o primeiro caso na primeira semana de março de 2020 (Figura 8). Na Amécia do Sul, Chile e Brasil têm seus primeiros registros da Covid-19 na última semana de fevereiro (Figura 9). Sendo que a Argentina confirmou seu primeiro óbito antes do dia 11 de Março de 2020 (não exibido).
Do ponto de vista de uma análise mundial, identificamos registros da covid nos cinco continentes do globo Terrestre até cerca de 30 dias antes da OMS ter declarado a atual crise sanitária global como pandemia. Todos os 5 continentes apresentaram casos da covid, sendo alguns com óbitos. Numa disseminação de um agente pandêmico, como foi observado, visto que em poucas semanas já estava presente em vários continentes, acreditamos que se a OMS tivesse declarado pandemia 15-20 dias antes, isso nortearia os países a tomarem medidas justificativas de contenção na disseminação da partícula viral. Por exemplo, no início de fevereiro, o mundo ja registrava mais de 4.000 casos diários confirmados (Figura 10). De tal maneira, que o fato de ter sido atrasado a declaração do estado pandêmico da COVID-19, pode ter contribuído para que nações, e autoridades de saúde desses países não compreendessem a biologia e a dinâmica de um agente patogênico respiratório altamente contagioso. No Brasil, diversos infectologistas, ocuparam as grandes emissoras de TV de canal aberto, ainda em fevereiro de 2020, mesmo com todos os números divulgados pela OMS, para divulgarem informações técnicas desastradas, como: se este vírus chegar no Brasil, não desencadearia o impacto que alguns países já estavam vivenciando, por conta do clima mais quente; e de que os coronavírus causam somente um resfriado leve.
A despeito da presença do novo coronavírus em várias regiões e continentes do mundo, como Ásia, Oceania, Oriente Médio, Europa, América Central, América do Norte e América do Sul; e das nações aqui representadas como China, Japão, Vietnam, Austrália, Kuwait, Israel, Itália, Reino Unido, Alemanha, República Dominicana, Costa Rica, Estados Unidos, Canadá, Argentina e Brasil, com os casos confirmados e óbitos – cerca de 2/3 dos países de 5 continentes já registravam vítimas fatais pelo novo coronavírus, não foram suficientes para orientar as autoridades mundiais e locais sobre o que estava por vir. Destaca-se o fato de que os casos diários atingiam, no início de fevereiro de 2020, o valor de 15.000, com pico de 250 óbitos diários Figura 10A e 10B. Apesar de todo esse cenário de vários surtos e óbitos acometendo praticamente todo o globo terrestre, as autoridades mundiais da área de saúde aguardaram um tempo. Talvez, não esperassem que o novo coronavírus de 2019, o SARS-CoV-2, se disseminasse por quase todo o planeta, mesmo com os históricos recentes preocupantes do SARS-CoV (Severe acute respiratory syndrome coronavirus) e do MERS-CoV (Middle East respiratory syndrome coronavirus), em 2002/2003 e 2012, respectivamente 14.
Certamente características epidemiológicas, como o longo período de incubação e o modo de propagação em "clusters", fizeram e fazem muito a diferença nas estratégias de combate a este novo coronavírus. O longo período para manifestar sintomas que levam o paciente à procura de socorro médico, e o modo de seu contágio, o qual depende de pequenas aglomerações, em ambientes familiares, atividades esportivas de contato, por exemplo, onde esses pequenos grupos ou “clusters”, com infectados, se aproximam uns dos outros, formando grandes aglomerados, e portanto, gerando ambientes ou centros de superdisseminação 10; refletindo mais tarde, em grandes casos diários, que levam a grandes mortalidades diárias, dias após os contatos entre esses inúmeros “clusters”. É como se fossem pequenos focos de incêndio em uma extensa floresta, que vão se unindo e formando grandes áreas em chamas. Sua epidemiologia não é homogênea, como no vírus influenza. São casos dispersos, um caso aqui outro ali. Por exemplo, no mesmo edifício alguns apartamentos com pessoas positivas. Ou ainda, num bairro, onde os casos isolados ocorrem em ruas diferentes. Já no caso do vírus influenza, todos da rua ficam gripados, diferente do que ocorre com o coronavírus, onde os casos estão distantes, pontuais e em tempos diferentes. Um grupo aqui outro ali. O modelo do influenza é homogêneo, diferente do coronavírus.
A espertise da OMS estava preparada para o modelo epidemiológico da gripe. Inicialmente não tiveram tempo para compreender a epidemiologia desse novo vírus [o que não é tão novo]; mas como todo vírus respiratório depende de ambientes fechados, pessoas próximas para a sua disseminação. Neste caso, além do aspecto epidemiológico ser distinto, via “clusters”, algo novo para um vírus pandêmico, sua alta transmissibilidade e seu alto período de incubação aliados ao seu modelo de disseminação permitiram que o nCov-19, o SARS-CoV-2, atingisse praticamente toda a "floresta global" em pequenos focos, antes que a OMS desse conta de como o agente viral patogênico estava atuando - o já conhecido corona disseminador de 2002/2003 e 2012.
Especificamente no Brasil, emissoras de TVs de canais abertos iniciaram campanhas com o objetivo de tranquilizar a população, veiculando em seus programas a seguinte mensagem por parte de profissionais da saúde: - Não precisa se preocupar. Esse vírus, no máximo causam um resfriado comum, sem grandes consequências 15.
Em ocasião próxima, antes do carnaval de fevereiro de 2020, profissional da área de saúde concede entrevista na programação do final de semana, apresentando o discurso: - Não se preocupem. Nada de grave irá ocorrer 16. E posteriormente à declaração de pandemia pela covid, vários canais abertos de TV, utilizando a credibilidade de profissionais de saúde, realizaram uma maciça campanha desmotivando a utilização de máscaras pela população 17.
Outro dado verificado no decorrer da pandemia neste estudo da análise global da evolução de janeiro de 2020 a maio de 2021, foi o fato de que as curvas de casos diários e óbitos obedecem a um padrão periódico de elevação e decréscimo, formando as “ondas pandêmicas”. Em diversos exemplos foram verificados que após o início das campanha de imunização os casos diários se elevam de maneira exponencial, como se a curva seguisse o caminho natural da epidemiologia de uma doença infectocontagiosa, com subidas e descidas exponenciais. Fato observado em várias regiões do planeta, como Itália, França, Alemanha, Espanha, Suécia, na Europa. Chile, Argentina e Brasil, na America do Sul, e na Turquia e Índia na Ásia.
Algumas hipóteses podem explicar os dados exibidos neste trabalho. Por exemplo, países ainda com baixa cobertura vacinal, apresentarem um elevação no número de casos e de óbitos, como Brasil (20,6% da população – receberam primeira dose; 10,1% vacinadas completamente) e Índia (11,5% – receberam a primeira dose, 3,1% da população vacinados completamente). Talvez isso tenha ocorrido por conta de uma falsa proteção que as pessoas vacinadas passaram a desfrutar, seja por aqueles que foram vacinados só com a primeira dose, ou ainda, por aqueles que foram imunizados completamente, mas quando infectados, com sintomas leves, disseminam a partícula viral no ambiente, infectando não vacinados ou vacinados incompletamente. Vale lembrar que os imunizantes emergenciais não protegem, a proposta das vacinas emergenciais é diminuir a gravidade da covid, a fim de que hospitais não fiquem lotados.
Outro fator seria a presença das variantes que encontraram espaço para disseminação, já que o vírus selvagem original está sendo combatido. Portanto, esse aumento de casos e óbitos poderia ser decorrente do impacto da vacinação nas populações. Se as vacinas possuem uma cobertura protetora e eficaz, será necessário mais tempo para esta comprovação. Alguns epidemiologistas afirmam que a proteção segura para todos se dará quando pelo menos 80% da população for vacinada. Vale lembrar também que diferentes vacinas estão sendo adotadas nos diferentes países.
Os números baixos de casos diários da República Popular da China, figura 18, poderiam ser explicados pela prevalência de coronavírus na região, conferindo à população uma imunidade cruzada, ou seja, outros coronavírus circulantes na região que compartilham epítopos com o SARS-CoV-2.
A Austrália, a qual parece que controlou a pandemia em seu país, a partir de meados de 2020 adotou medidas de isolamento, figura 13. As fronteiras foram fechadas e um longo período de lockdown foi realizado. Talvez essa atitude seja fruto da Escola de renomados virologistas do país, como o Professor e pesquisador Frank Fenner e a Dra. Ruth Bishop.
Por outro lado, a lógica do lockdom não se mostrou efetiva no Brasil. As especificidades das sociedades parecem ser diferentes, quando se compara Brasil com Austrália. Outro fato a ser observado, por exemplo no Brasil, foi o fato de que as aglomerações nos transportes públicos são realidades desde 2020 e assim perdura em 2021. É nítido que as autoridades sanitárias e políticas não compreenderem a importância da forma de disseminação do SARS-CoV-2, quando permitiram que o campeonato brasileiro de futebol fosse reiniciado em 2021, bem como os campeonatos estaduais, apesar da publicação de trabalhos informando sobre a importância da formação dos "clusters" em ambientes superdisseminadores como esses detectados em tais práticas esportivas (Moreno et al., 2021). O lockdown parece funcionar quando toda a população está engajada. Mas devidos as especificidades sociais do Brasil, isso não ocorreu, até porque prefeitos e governadores poderiam ter controlado o transporte público no sentido de organizar, distribuir máscaras nas entradas das lotações e delimitar o número mínimo de pessoas/veículo durante o percurso.
Ainda sim, acrescenta-se os fatores sociais que impelem que boa parte da população desempregada necessite que seu alimento seja obtido diariamente, através de atividades diversas, como: lavagem de carros; guarda de veículos temporariamente nas ruas do país, serviços de limpeza nos domicílios, entre outras; fornecendo assim, a sobrevivência diária das pessoas.
Existe também, é claro, uma responsabilidade individual; diversas reportagens da televisão exibiam filas de bancos enormes com as pessoas aglomeradas, “penduradas” umas sobre as outras.
Enfim, do ponto de vista mundial, o atraso em declarar o estado pandêmico no planeta, por parte da OMS, não permitiu que as nações justificassem medidas rígidas desde o início. Observe casos diários e óbitos nos 5 continentes exibidos neste trabalho. Talvez, um início com boqueio de fronteiras, aferição de temperatura, cancelamento de eventos que geram aglomerações, como o carnaval na cidade do Rio de Janeiro e em outras cidades brasileiras, teriam desde o início, contribuído para que os profissionais de saúde compreendessem a real situação.
Dados outros devem ser avaliados, e as condições clínicas das pessoas também. Por exemplo, agrava-se a situação com o fato de que 96% das mortes são de portadores de comorbidades. O vírus abrevia o lifespam dessas pessoas. A maioria vive doente e não sabe. Como o vírus esgota rapidamente as reservas energéticas do doente, por excessiva estimulação imunológica, eles não tem força extra para sobreviverem, mas transmitem o vírus.
Sobre as Ilhas Seychelles pode-se especular que vacinas diferentes com eficácias diferentes, podem ter possibilitado o aumento no número de casos, promovendo assim, o surgimento de novas variantes. Vacinar desenfreadamente e sem organização, pode ter sido a causa do que está ocorrendo nesse arquipélago.
O padrão de transmissão dos coronavírus, em especial desse novo coronavírus mostrou-se diferente do influenza (que se dá primariamente por aerossóis). Este novo coronavírus se dissemina através de grupos, "clusters", se perpetuam na população não em ondas de aerossóis, como ocorre com o vírus influenza, mas passando de um grupo a outro, aliado ainda a sua alta persistência no ambiente, apesar de ser um vírus envelopado, os quais são reconhecidamente mais frágeis que os vírus sem envelope lipídico, mas no caso dos coronavírus. Fato este não totalmente compreendido (os coronavírus persistem bem nas superfícies), o que municia mais ainda como recurso extra em sua disseminação. Biologicamente falando, acrescenta-se ainda o fato de que estes vírus são pantrópicos, infectam células do trato respiratório superior, intestino, pulmões e SNC.
Outras importantes questões envolvidas são, por exemplo, o fato de que as vacinas não tem a mesma eficácia para as variantes circulantes, o que explicaria o aumento de casos, independe da campanha ter sido iniciada. Por exemplo, a Astrazeneca para variante Indiana B.1.351 não se mostra efetiva. Ou que, países com sistema de saúde deficitário empurram a curva para valores maiores, como ocorre na América do Sul com o Brasil e a Argentina. Ou ainda, de que nem todos os profissionais da área de saúde têm uma formação específica na área da epidemiologia das viroses. Como já mencionado, inicialmente no Brasil alguns profissionais informavam de que não era para fazer alarde. Segundo eles os coronavírus somente causavam uma “gripezinha”, com sintomas leves, sem a menor preocupação (Janeiro de 2020). Observa-se, por parte desses profissionais, o desconhecimento da SARS que ocorreu em 2002/2003, a qual afetou 29 países e matou mais de 800 pessoas, e a MERS de 2012, que foi controlada devido ao Ro (coeficiente que avalia a transmissão) ser menor do que o da SARS.
O trabalho de Moreno e colaboradores10 mostrou que a Covid-19 entre os jogadores de futebol do brasileirão de 2020 foi detectada em 48% dos jogadores. Mesmo que haja vacinação, os jogadores ainda serão infectados, não será impedida a disseminação do coronavírus. A vacina não evita a infecção. Aliado a essas questões epidemiológicas, agrava-se ainda a situação imunológica de cada atleta, visto que os jogadores de alto rendimento perdem seus anticorpos das mucosas da cavidade oral durante as partidas. Portanto, estes continuarão a serem centros "superdisseminadores" da covid.
Mesmo a pessoa estando vacinada, não impede de que o vírus continue circulando. E se a aglomeração continua, ela vai atuar como fonte de contágio viral. A vacina não impede a infecção. Estão vacinados, mas estão tendo a infecção, por isso os casos aumentam nos países que iniciam a vacinação e não adotam medidas de proteção e/ou contenção.
6. CONCLUSÃO
A presente análise da pandemia no período investigado não procurou avaliar a eficácia das diferentes vacinas, mas sim o efeito do processo imunológico nas populações. Considerando que os dados da atual crise sanitária ainda serão alterados, far-se-á tal estudo após sua finalização. Nosso objetivo foi o de avaliar o curso da pandemia no seu início, o qual ficou constatado de que houve uma demora por parte da OMS em declarar a SARS-2 (Câmara & Moreno, 2021)(denominada pela OMS de COVID-19) como uma epidemia global. Nossas análises também, mesmo que preliminarmente, indicam que futuramente se a humanidade passar por crises sanitárias semelhantes, a vacinação deve ser organizada e aplicada em massa, não em alíquotas, ou espaçadamente em uma região ou outra, em tempos distintos. O plano de imunização dever ser mundial, a fim de se tentar evitar o surgimento de variantes genéticas com maior transmissibilidade e menor susceptibilidade à imunização natural ou aos imunizantes emergenciais disponíveis.
Digno de nota, e com urgência, diz respeito à formação dos profissionais de saúde no Brasil, a qual deve ser realizada por professores específicos da área de Virologia. O que sem dúvida, no caso específico da covid, se os estabelecimentos de ensino superior tivessem adotado tal prática de ensino pelo menos nos últimos 50 anos, teria se evitado as inúmeras intervenções pretensamente informativas, que mais geraram desconfiança do que credibilidade e apoio por parte da população.
7. REFERÊNCIAS
1 Câmara FP, Câmara DCP, Moreno M. Covid-19: trajetória atual e futura. Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, 2020b; 3:13377-13382, DOI:10.34119/bjhrv3n5- 162.
2 Câmara, F. P. & Moreno, M. Ecologia do vírus SARS-CoV-2 e estado atual da COVID-19. Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p. 13106-13112 may./jun. 2021. DOI:10.34119/bjhrv4n3-263.
3 COVID-19 Dashboard by the Center for Systems Science and Engineering (CSSE) at Johns Hopkins University (JHU). Disponível em: https://gisanddata.maps.arcgis.com/apps/dashboards/bda7594740fd40299423467b48e9e cf6. Acesso 26/05/2021.
4 Davis, Bernard D. Microbiologia de Davis. 2. ed. São Paulo: Harbra [Harper & Row do Brasil], 1974. v. 4: VIROLOGIA.
5 Didier Raoult & Patrick Forterre. Redefining viruses: lessons from Mimivirus. Nature Reviews Microbiology volume 6, pages 315–319, (2008).
6 Fields, B. N., et al. FIELDS VIROLOGY. 6 ed. Filadélfia: Lippincott & Wilkins, 2013. v. 1, 2.
7 https://noticias.r7.com/internacional/pandemia-de-coronavirus-gera-surto-de-racismo-contra-asiaticos-15032020. Acesso 27/05/2021.
8 ICTV (International Committee on Taxonomy of Viruses). Naming the 2019 Coronavirus. https://talk.ictvonline.org/information/w/news/1300/page. Acesso 06/06/2021.
9 Medical Virology: Fenner and White’s. Fifth Edition. Academic Press; 5th Edition (January, 2017).
10 Moreno M, Coelho MLRA, Câmara FP. COVID-19 em atletas no campeonato brasileiro de futebol (Brasileirão) de 2020, Brazilian Journal of Development, 2021; 7: 35867- 35874, DOI: 10.34117/bjdv7n4-175.
11 Moreno, M. “NCoV-2019 ou COVID-19?”. Patógenos&Epidemias. Fev 2020. http://doi.org/10.29327/737510
12 Moreno, M. Os vírus que não dormem. Caderno de Virologia, [S. l.], p. 1-70, 2 jul. 2021. DOI: https://doi.org/10.29327/838443.
13 Otto Bier. Microbiologia e Imunologia. Editora Melhoramentos. 24ª Edição. 1985.
14 WHO, Situation Report -22, 11 February 2020. Novel Coronavirus (2019-nCoV). https://www.who.int/docs/default-source/coronaviruse/situation-reports/20200211- sitrep-22-ncov.pdf?sfvrsn=fb6d49b1_2. Acesso 27/05/2021.
15 Wit, E, Doremalen, NV, Falzarano D, Munster VJ. SARS and MERS: Recent insights into emerging coronaviruses, Nature Reviews of Microbiology 2016; 14: 523-534.
8. ANEXO
Dados sobre a vacinação:
1. Percentual da população vacinada com a primeira dose da vacina contra a COVID-19 até 27/05/2021.
2. Percentual da população vacinada completamente contra a COVID-19 até 27/05/2021.
Vírus de Wuhan
HCoV-19
nCoV-19
SARS-CoV-2
? SARS-CoV-3 ?
Marcelo Moreno
Virologista, Doutor em Ciências (Microbiologia)
Professor da Universidade Federal da Paraíba
E-mail:profmarcelomoreno@yahoo.com.br
Maio
2021
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