A 2ª ONDA do SARS-CoV-2 ou infectando os susceptíveis? The 2and Wave of SARS-CoV-2.


Prof. Dr. Marcelo Moreno

Farmacêutico

Licenciado em Química

Mestre em Ciências Biológicas (Microbiologia)

Doutor em Ciências (Microbiologia e Imunologia)


COVID-19: Diário de bordo



Em breve:  e-book e capa dura


2020

pandemic year


Aumento de 10 milhões de casos num intervalo de aproximadamente duas semanas  


50 milhões de casos confirmados da COVID-19 no Mundo


Agora são 50 milhões de casos confirmados no mundo. O Brasil com 162.397 óbitos pela COVID-19, é o segundo lugar em número de recuperados, com 5.147.172 num total de 5.664.115 casos confirmados, apresentando taxa de recuperação neste dia de 90,87%. Perde somente para a Índia, que está com 7.868.968 de recuperados com 8.507.754 casos confirmados, com taxa de recuperação de 92,49% e 126.121 óbitos pela COVID-19. Estados Unidos está em terceiro lugar, com 3.881.491 de recuperados com 9.961.324 de casos, com uma taxa de recuperação de 38,96% e com 237.566 mortes. 


Entramos na 2ª onda? Qual será o teto? Quando cessará a pandemia? 


Fonte: Google imagens



Os da Fé, dizem: - Não é um vírus, é um demônio!



Fonte: https://gisanddata.maps.arcgis.com/apps/opsdashboard/index.html#/bda7594740fd40299423467b48e9ecf6Acesso 08/11/2020.


Ontem, 08 de novembro de 2020, o Mundo ultrapassou a marca dos 50 milhões de pessoas diagnosticadas positivas para o SARS-CoV-2. Na sexta-feira, dia 07, a Itália, mais uma vez alvo da atenção, estabelece o coprofuoco a partir das 22h.


Abaixo exibimos a evolução do tempo de dobramento para novos casos de COVID-19 na Itália. O tempo de dobramento corresponde o tempo necessário para que a população de infectados dobre o seu número. Ou seja, quanto maior o valor, mais difícil será a disseminação viral e melhor a perspectiva para o futuro, no que diz respeito ao controle da pandemia.



Evolução do tempo de dobramento dos casos confirmados (TD - tempo necessário para que o numero de caso dobre de tamanho). Abscissa em numero da semana e a ordenada o tempo em dias. Observe que nas primeiras semanas o TD é baixo, indicando que são necessários pouco dias para o numero de casos dobrar. A partir da 10ª semana este número começa a subir, atingindo na 22ª o valor de 1.150 dias. A partir daí o TD inicia sua queda até atingir valores semelhantes àqueles do inicio da pandemia na Itália, o que é preocupante neste momento.


Observa-se um tempo de dobramento nos mesmos patamares do início da pandemia. No entanto, a Itália observou por mais de 20 semanas essa taxa diminuir constantemente. Por que as autoridades não fizeram nada? Ou se fez, não foi o suficiente. Muito embora, a disseminação continuaria. Será que a população ficou muito confiante "achando" que  o SARS-CoV-2 não estava mais circulando?


Alguns pensam que se trata da 2a onda, semelhante o que ocorre com os vírus influenza, mas tudo indica que são os susceptíveis restantes sendo infectados. Muito provavelmente não é a 2ª onda, é o mesmo vírus que permaneceu na população. Outro fator que deve ser lembrado é o fato de que os vírus junto aos seus hospedeiros exibem uma coevolução. Espera-se daqui pra frente, e torcemos pra isso, que apesar do número de casos crescente, os sintomas sejam mais brandos numa parcela maior de infectados.


Os casos de Covid reaparecem no mundo e provocam a volta de medidas rigorosas de contenção, principalmente nos países europeus. É provável que futuramente torne-se mais um dos coronavírus causadores de doenças respiratórias evoluindo na direção da atenuação dos sintomas no hospedeiro, dessa forma persistindo entre nós com sintomas mais leves na maior parte da população - é a coevolução dirigindo a COVID-19 para a sazonalidade. Este fenômeno já foi observado com o vírus da mixomatose, o qual infectava e matava os coelhos selvagens da Austrália de forma voraz, quando introduzido na região, mas, logo após algum tempo, sua virulência foi diminuindo, acompanhado do aumento da resistência do hospedeiro susceptível. Mas este assunto fica para uma próxima postagem.


Em relação ao termo 2ª onda, não parece ser correto para a epidemiologia do SARS-CoV-2. Com o H1N1, um vírus influenza, sua disseminação ocorre principalmente através de aerossóis. O que se compreende, para a gripe espanhola de 1918, é que a partícula viral deu voltas no planeta levando ondas de infecção e morte, gerando assim varias "ondas pandêmicas". No caso do novo coronavírus, a principal forma de disseminação é a aglomeração. Sua disseminação está baseada no modelo de "clusters" e na presença dos superdisseminadores (assintomáticos que quando em aglomerações são altamente eficientes na disseminação da partícula viral). Portanto, não parece que este novo coronavírus esteja "dando voltas" no planeta, mas sim, que estes superdisseminadores junto com os susceptíveis que retornam às atividades, sem qualquer medida preventiva têm contribuído para esta aparente 2ª onda. Agrava-se ainda o comportamento, por exemplo, das classes média e alta, que estavam isoladas, agora saem para as ruas em suas atividades sociais, onde conversam, eliminam perdigotos, permanecendo longos períodos nesses encontros recreativos(divulgado pela mídia em todo o país). No entanto, não estão sendo observadas as medidas de contenção da disseminação do novo coronavírus, como o distanciamento social e o uso de máscaras. 


É importante a compreensão do que está ocorrendo e suas causas. Fundamentos da Epidemiologia não podem ser esquecidos ou mesmo distorcidos. Compreender o fenômeno corretamente só trará benefícios para a população, a fim de que possamos enfrentar, futuramente, com medidas e estratégias corretas, o SARS-CoV-3 e similares. 


Voltando à Itália: O numero de casos diários lá são maiores do que aqueles do inicio da pandemia, quando morriam cerca de 1.000 pessoas/dia. No entanto, o número de óbitos tem se mostrado até agora  menor. E provavelmente, a sintomatologia deverá ser mais branda, e espera-se que a taxa de mortalidade diminua nessa nova disseminação, cujo mecanismo principal de transmissão das partículas virais não é por "ondas" como na gripe por influenza, mas por aglomerações. O vírus já está na população, mantido na população pelos superdisseminadores.



Gráfico exibindo novos casos diários na Itália desde o início da pandemia até novembro de 2020. 10K = 10.000 casos. Observe o elevado numero de casos neste momento, comparado com os meses de março e abril. Fonte: https://www.worldometers.info/coronavirus/country/italy/ Acesso 10/11/2020.



Gráfico exibindo novos óbitos diários na Itália desde o início da pandemia até novembro de 2020. 10K = 10.000 casos. Observe o  numero menor de óbitos neste momento, comparado com os meses de março e abril. Fonte: https://www.worldometers.info/coronavirus/country/italy/ Acesso 10/11/2020.



Acreditamos que o momento não é para desespero. Continuemos nossas vidas, sempre com o distanciamento e medidas convenientes de convívio. Continuarmos pode ser uma forma de respeito e homenagem aos nossos amigos e parentes que partiram nessa luta diária de todos nós.







"PRECISAMOS VIVER COM OU SEM PANDEMIA"

Marcel Yeshœl 

 


Comentários

Imagem esquemática do SARS-CoV-2 exibindo a espícula glicoproteica S

Imagem esquemática do SARS-CoV-2 exibindo a  espícula glicoproteica S
Ela é responsável pelo fenômeno de adsorção, a ligação do vírus à célula, e portanto, pelo início da infecção viral. O SARS-CoV-2 se liga às células através de um receptor, a enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2), presente nas superfícies de células do pulmão, do intestino, do rim, e de vasos sanguíneos. Imagem: https://www.scientificanimations.com/C&EN/Shutterstock.

Imagem esquemática do SARS-CoV-2.

Imagem esquemática do SARS-CoV-2.
Observe receptor presente na célula [ACE2] que se liga à proteína S. Human cell = célula humana; Glycoprotein = glicoproteína. Imagem: https://www.scientificanimations.com/C&EN/Shutterstock.

SARS-CoV-2 iniciando o processo de infecção.

SARS-CoV-2 iniciando o processo de infecção.
Fenômeno de adsorção - quando o vírus "toca" a célula com "segundas intenções". A menor quantidade de receptores ACE-2 nas células das crianças explicaria o fato desta faixa etária ser menor atingida por este novo coronavírus.