ÔMICRON: o fim da pandemia ou um "Mato Sem Cachorro" ?
Figura acima: Variante Omicron (B.1.1.529). Em 24 de novembro de 2021, a África do Sul comunicou a identificação de uma nova variante do COVID-19, B.1.1.529, à Organização Mundial da Saúde (OMS). B.1.1.529 foi detectado pela primeira vez em espécimes coletados em 11 de novembro de 2021 em Botsuana e em 14 de novembro de 2021 na África do Sul. Fonte: https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/variants/omicron-variant.html Acesso 14/01/22.
Lembra da variante Delta, a indiana?
Publicamos e concedemos entrevistas dizendo que a variante poderia também imunizar as pessoas, além de ser acompanhada por um número de casos elevados e baixa letalidade. O que aconteceu realmente, comparada a a cepa original de dezembro de 2019.
Agora com a ômicron, a variante da África do Sul, avaliamos tal efeito epidemiológico em dezembro de 2021 em entrevista concedida a rádio Tabaraja de João Pessoa, Brazil, onde esperávamos muito mais casos e uma mortalidade menor.
Segundo o CDC – Centro de Controle e Prevenção de Doença, Atlanta, Geórgia, a disseminação da ômicron é maior do que a do vírus original e da variante Delta, e que mesmo pessoas vacinadas ou sem sintomas espalham o vírus para outras pessoas.
Sim! Não podemos esquecer dos imunizantes aplicados desde dezembro de 2020.
Nossa análise está baseada em conhecimentos da Virologia e genética das variantes, comparada ao vírus original. Veja abaixo a representação esquemática dos genomas das variantes de preocupação:
RDB = Receptor-bindind domain (domínio de ligação ao receptor celular). Região da proteína que se liga à célula.
NTD = N-terminal domain (domínio N-terminal). Região envolvida com regulação do genoma no processo de transcrição (produção de RNA mensageiro).
As regiões de clivagem e peptídeo de fusão (hot zone) estão envolvidas com a infecciosidade. A expressão infecciosidade* refere-se a capacidade do vírus infectar a célula. Portanto, se mutações pontuais (antigenic drift) estão ocorrendo nessa região, os vírus mutantes (as variantes) podem se tornar mais eficiente em penetrar na célula. Ocorrendo isso, mais partículas serão produzidas, consequentemente acarretará numa transmissibilidade maior (capacidade de um vírus passar de uma pessoa para outra). Já as mutações na RDB fazem com que os vírus escapem do sistema imune.
Acerca do exposto podemos observar:
1. Todas as variantes citadas aqui possuem a mutação D614G próxima a região de clivagem e mutações na região RDB. O que poderia explicar escape do sistema imune (as reinfecções com tais variantes) e infecciosidade maior, com consequente maior transmissibilidade.
2. A partir da variante indiana, podemos observar uma mutação exatamente na região de clivagem. O que explicaria sua alta transmissibilidade comparada às variantes alfa, beta e gama.
3. Por sua vez, a ômicron e a sua sublinhagem BA.2 apresentam mais mutações na hot zone; sem dúvida explicando sua melhor entrada dentro da célula e sua consequente maior transmissibilidade que todas as variantes. Por outro lado a quantidade de mutações na RDB (15 no total), podem indicar um maior escape do sistema imune, já que as outras possuem no máximo 3 mutações nessa região. O que explicaria o número crescente de hospitalizações em todo o país, com os leitos de UTI sendo novamente ocupados pela Covid-19.
Mas, o que fazer?
Continuar as campanhas de vacinação com as atualizações urgentes dos imunizantes. Muito embora estes não sejam eficientes em estimular uma resposta de anticorpos da classe IgA (o leito materno é rico dessa imunoglobulina), que protegem nossas mucosas, neutralizando as partículas virais, e assim não permitindo ou diminuindo drasticamente a transmissão desses coronavírus entre os seres humanos e outros animais.
Ou, com o caminhar desse ataque, dessa crise sanitária que a humanidade sofre ou passa, as próprias infecções e reinfecções irão empurrar naturalmente esses vírus para a tão aguardada sazonalidade. Ou seja, nem tudo tá perdido!
Nota: a expressão mato sem cachorro significa uma situação sem solução, ou seja, está tudo perdido. Não há mais a quem recorrer ou o que fazer.
Fonte: dicionário informal em ,https://www.dicionarioinformal.com.br/mato+sem+cachorro/> Acesso 03/02/2022.
REFERÊNCIAS
1. CDC-Centers for Disease Control and Prevention. Science Brief: Omicron (B.1.1.529) Variant. https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/science/science-briefs/scientific-brief-omicron-variant.html. Acesso 07/02/2022.
2. Grossoehme et al. Coronavirus N Protein N-Terminal Domain (NTD) Specifically Binds the Transcriptional Regulatory Sequence (TRS) and Melts TRS-cTRS RNA Duplexes. J. Mol. Biol. (2009) 394, 544–557. doi:10.1016/j.jmb.2009.09.040.
3. ViralZone: SARS-CoV-2 circulating variants. Disponível em <https://viralzone.expasy.org/9556>. Acesso 09/02/2022.
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